sexta-feira, 12 de julho de 2013

Guia para jornalistas que querem aprimorar a arte da entrevista


Na rotina jornalística, a entrevista está entre as atividades mais essenciais. Ela é a alma do jornalismo: pode impulsionar ou detonar uma matéria, dar vida a narrativas e conduzir à compreensão de acontecimentos complexos. Ainda assim, a maioria dos repórteres aprimora esta habilidade por tentativa e erro. E, às vezes, o erro vai em formato de áudio com engasgadas vergonhosas direto pro editor.
Apesar de não ser uma ciência exata, dominar algumas técnicas pode facilitar o caminho do jornalista que quer se tornar um entrevistador daqueles que arrancam boas respostas até das fontes mais evasivas. Conheça algumas delas neste guia preparado pelo Centro Knight com links e dicas de profissionais experientes no assunto.
1. Defina seus objetivos
Antes de mais nada é preciso saber o que se quer da entrevista: aspas, confirmação, contexto, reconstituir uma cena? Este é o primeiro passo para traçar a estratégia a ser adotada.
A Knight Chair em Jornalismo e professora da Universidade de Missouri Jacqui Banaszynski aconselha os jornalistas a responderem as seguintes perguntas antes de ligarem seus gravadores: Por que você está fazendo esta matéria? O que você precisa saber (e como vai conseguir)? O que você quer saber (e como vai conseguir)? Qual é o seu propósito ou foco inicial? Quais são os desafios logísticos/jornalisticos/éticos/morais envolvidos?
2. Esteja preparado
Uma boa entrevista começa muito antes do contato com o entrevistado. Como Jon Talton, colunista do Seattle Times, escreveu para o Reynolds Center, conhecer muito bem a fonte e o tema que será tratado é o dever de casa. Fazer uma lista de perguntas prévias não garante o sucesso da entrevista, mas pesquisar e estar completamente por dentro do que será debatido e da pessoa com quem se debaterá pode render bons frutos.
Um bom exemplo disso é dado pelo colunista do Poynter Chip Scanlan: "AJ Liebling, uma escritora famosa da The New Yorker, conseguiu uma entrevista com o conhecidamente lacônico jóquei Willie Shoemaker. Abriu com uma única pergunta: Por que você monta com um estribo maior do que o outro? Impressionado com o conhecimento de Liebling, Shoemaker falou".
3. Saiba como perguntar
Assim como Liebling, jornalistas frequentemente se deparam com entrevistados que não estão tão dispostos a falar quanto se deseja. Saber perguntar, nestas horas, faz toda a diferença. Segundo as lições do jornalista investigativo canadense John Sawatsky, uma autoridade na arte da entrevista, para a American Journalism Review e para o Poynter:
  • evite perguntas cujas respostas possam ser apenas "sim" ou "não" (a não ser que se queira confirmar alguma informação precisa), prefira as do tipo "como", "por que", "o que".
  • mantenha as perguntas curtas e focadas em um único assunto (uma de cada vez)
  • evite hipérboles ou palavras carregadas
  • mantenha sua opinião fora das perguntas
  • não tente argumentar com a fonte para convencê-la da sua versão; ao invés disso, peça para ela comentar uma informação que você sabe ser verdadeira
  • sempre questione: como você sabe?
  • pergunte sobre temas sensíveis sem soar "combativo"
  • peça exemplos e descrições, isso ajuda a fonte a lembrar e articular as respostas


4. Conduza uma conversa
A ganhadora do Pulitzer Isabel Wilkerson considera entrevistas "conversas guiadas" nas quais a dinâmica da relação é mais importante que qualquer questão individual. "Nas escolas de jornalismo, ninguém chama as interações entre jornalistas e fontes de relacionamento, mas é isso que são", diz ela.
Aprenda a fazer anotações sem olhar apenas para o caderno. É fundamental manter uma interação visual e corporal com o entrevistado. Demonstrar empatia deixa a fonte mais à vontade, o que aumenta as chances dela se abrir. "Entrevistar é ciência de ganhar a confiança, depois ganhar a informação", ressalta John Brady em "A Arte da Entrevista".
5. Escute e controle o ritmo
Às vezes o jornalista está tão preocupado em seguir o seu rascunho que não percebe os momentos por onde a história pode se desenvolver mais. Não corte a possibilidade de informações mais profundas virem à tona pulando muito rapidamente para a sua próxima pergunta. Se houver limitações de tempo, concentre-se no tópico mais importante, escolha com sabedoria. Se o tempo for liberado, explore os pontos que soarem mais interessantes durante a entrevista.
6. Faça perguntas a partir das respostas
Não deixe qualquer dúvida passar em branco. Questões derivadas de respostas mal compreendidas costumam dar pano pra manga. Como ensina Banaszynski, "para cada questão, pergunte outras cinco".
Seja um ouvinte interessado e perceba quando as respostas te levam para outras perguntas sobre o tema. Conforme explica Sawatsky, quanto mais você demonstra que está realmente ouvindo, mais confiança se estabelece.
7. Negocie os termos de antemão
Deixe claro o propósito e o contexto da entrevista e procure saber no início as preocupações da fonte. Isso pode evitar que você seja surpreendido com um pedido de "off the record" [não publicar a informação passada] depois de uma entrevista reveladora.
Em um interessante artigo sobre a arte da entrevista para a Columbia Journalism Review, a jornalista Ann Friedman cita Max Linsky, um entrevistador de peso do Longform Podcast, que diz: "Longas entrevistas podem ter três atos - saiba onde você quer começar, onde você quer terminar, e como você quer chegar lá. E deixe o entrevistado conhecer o plano! Essas conversas podem sair dos trilhos rapidamente - compartilhar o roteiro antecipadamente permite que você interrompa e mude as coisas com mais facilidade. Faz com que entrevistado e entrevistador se sintam como se estivessem no mesmo time. "
8. Cara a cara, telefone, e-mail?
A entrevista pode ser feita das mais variadas formas: pessoalmente, por telefone, skype, e-mail, com uso ou não de câmeras de vídeo. Escrevendo para o Poynter, a jornalista Mallary Jean Tenore citou a preferência de cinco jornalistas com os quais conversou. A maioria ressalta que a conversa cara a cara permite que o repórter observe detalhes do comportamento do entrevistado e da cena que escapam em conversas por telefone ou e-mail.
Quando a distância com a fonte não permite o contato pessoal, recorre-se ao telefone ou até mesmo a ferramentas como o Skype. Ao falar por ligações on-line, o uso da webcam tem a vantagem de permitir que se veja a expressão corporal do entrevistado.
É unanimidade que a entrevista por e-mail é a última opção. Mas o meio é válido para agendar a entrevista, fazer perguntas preliminares ou verificar informações e tirar dúvidas posteriores.
Aqueles que optarem por gravar em vídeo devem estar atentos a algumas questões técnicas, como a captura de áudio e os planos que serão usados. Casey Frechette, do Poynter, aconselha antecipar o que pode dar errado durante a entrevista em vídeo para ter sempre uma carta na manga. Checar duas vezes se as baterias estão carregadas, se o equipamento está funcionando bem e se a locação está liberada, por exemplo, é crucial.
9. Seja esperto, ouse ser ignorante
Certifique-se de que entendeu o que significam certas expressões, jargões e busque analogias. Nas palavras de Ann Friedman, "banque o estúpido", especialmente quando o assunto é técnico e complexo demais. Peça para a fonte explicar como se estivesse falando a uma criança.
10. Fique atento ao pós-entrevista
Banaszynski observa que é sempre bom anotar telefones, e-mails, endereços, detalhes sobre o local e o entrevistado. Se precisar, não hesite em fazer contato novamente para tirar dúvidas ou até mesmo agendar uma segunda entrevista. Após a publicação, é sempre bom passar a matéria à fonte e estar aberto a seus comentários.
Chip Scanlan acrescenta que a auto-avaliação é uma boa forma de se aperfeiçoar. Ao transcrever as conversas gravadas (e gravar é fundamental!), observe não só as respostas, mas as suas perguntas. "Você faz mais perguntas que encerram a conversa ou que a estimulam? Você interrompe o seu interlocutor quando ele está começando a se soltar? Você soa um ser humano interessado e amável ou um promotor atormentado?"

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Sátira: Desabafos de uma Mulher "moderna"

 “São 5.30H da manhã, o despertador não pára de tocar e não tenho forças nem para atirá-lo contra a parede. Estou acabada. Não quero ir trabalhar hoje. Quero ficar em casa, a cozinhar, a ouvir música, a cantar, etc. Se tivesse um cão levava-o a passear nos arredores. Tudo menos sair da cama, meter a primeira e ter de por o cérebro a funcionar. Gostava de saber quem foi a bruxa imbecil, a matriz das feministas que teve a ideia de reivindicar os direitos da mulher e porque o fez connosco que nascemos depois dela? 


Estava tudo tão bem no tempo das nossas avós, elas passavam o dia todo a bordar, a trocar receitas com as suas amigas, ensinando-se mutuamente segredos de condimentos, truques, remédios caseiros, lendo bons livros das bibliotecas dos seus maridos, decorando a casa, podando árvores, plantando flores, recolhendo legumes das hortas e educando os filhos.


 A vida era um grande curso de artesãos, medicinas alternativas e de cozinha. Depois ainda ficou melhor, tivemos os serviços, chegou o telefone, as telenovelas, a pílula, o centro comercial, o cartão de crédito, a Internet! Quantas horas de paz a sós e de realização pessoal nos trouxe a tecnologia! Até que veio uma tipa, que pelos vistos não gostava do corpinho que tinha, para contaminar as outras rebeldes inconsequentes com ideias raras sobre 'vamos conquistar o nosso espaço' Que espaço?! Que caraças! Se já tínhamos a casa inteira, o bairro era nosso, o mundo a nossos pés?! Tínhamos o domínio completo dos nossos homens, eles dependiam de nós, para comer, vestirem-se e para parecerem bem à frente dos amigos e agora? Onde é que eles estão?! Nosso espaço?! Agora eles estão confundidos, não sabem que papel desempenham na sociedade, fogem de nós como o diabo da cruz.


 Essa piada..., acabou por nos encher de deveres. E o pior de tudo acabou lançando-nos no calabouço da solteirice crónica aguda! Antigamente os casamentos eram para sempre. Porquê? Digam-me porque é que, um sexo que tinha tudo do melhor que só necessitava de ser frágil e deixar-se guiar pela vida começou a competir com os machos? A quem ocorreu tal ideia? Vejam o tamanhão do bíceps deles e vejam o tamanho dos nossos!


Estava muito claro que isso não ia terminar bem. Não aguento mais ser obrigada ao ritual diário de ser magra como uma escova, mas com as mamas e o rabo rijos, para o qual tenho que me matar no ginásio, ou de juntar dinheiro para fazer uma mamoplastia, uma lipo, ou implantes nas nádegas... Alem de morrer de fome, pôr hidratantes, anti-rugas, padecer do complexo do radiador velho a beber água a toda a hora e acima de tudo ter armas para não cair vencida pela velhice, maquilhar-me impecavelmente cada manha desde a cara ao decote, ter o cabelo impecável e não me atrasar com as madeixas, que os cabelos brancos são pior que a lepra, escolher bem a roupa, os sapatos e os acessórios, não vá não estar apresentável para a reunião do trabalho. E não só, mas também ter que decidir que perfume combina com o meu humor, ter de sair a correr para ficar engarrafada no transito e ter que resolver metade das coisas pelo telemóvel, correr o risco de ser assaltada ou de morrer numa investida de um autocarro ou de uma mota, instalar-me todo o dia em frente ao PC, trabalhar como uma escrava, moderna claro esta, com um telefone ao ouvido a resolver problemas uns atrás dos outros, que ainda por cima não são os meus problemas!!!


Tudo para sair com os olhos vermelhos - pelo monitor, porque para chorar de amor não há tempo! E olhem que tínhamos tudo resolvido, estamos a pagar o preço por estar sempre em forma, sem estrias, depiladas, sorridentes, perfumadas, unhas perfeitas, operadas, sem falar do currículo impecável, cheio de diplomas, de doutoramentos e especialidades, tornámos-nos super-mulheres mas continuamos a ganhar menos que eles e de todos os modos são eles que nos dão ordens! Que desastre! Não seria muito melhor continuar a cozer numa cadeira? Basta! Quero alguém que me abra a porta para que possa passar, que me puxe a cadeira quando me vou sentar, que mande flores, cartinhas com poesias, que me faça serenatas à janela!


Se nós já sabíamos que tínhamos um cérebro e que o podíamos utilizar para quê ter que demonstra-lo a eles? Ai meu Deus, são 6.10H, e tenho que levantar-me da cama … estou atrasada para variar, não vou conseguir estacionamento… Que fria está esta solitária e enorme cama! Ahhhh... Prefiro ter um maridinho que chegue do trabalho, que se sente no sofá e me diga: Meu amor traga-me um whisky por favor? Ou: O que há para jantar? Porque descobri que é muito melhor servir-lhe um jantar caseiro do que atragantar-me com uma sanduíche e uma Coca-Cola light enquanto termino o trabalho que trouxe para casa. Pensas que estou a ironizar ou a exagerar? Não minhas queridas amigas, colegas inteligentes, realizadas, liberais.... E idiotas! Estou a falar muito seriamente: ABDICO DO MEU POSTO DE MULHER MODERNA!!! E DIGO MAIS: A maior prova da superioridade feminina era o facto de os homens se esfolarem a trabalhar para sustentar a nossa vida boa! Agora somos “iguais” a eles! …”
In: tempos de frustrações

Queria só...ser Jornalista :(

Eu sonhava alto. Queria ser uma daquelas jornalistas que ficam até tarde na redacção  com um monte de cigarro na boca, xícaras de café na mão e furos jornalísticos memoráveis. Cada vez que o professor no curso de jornalismo contava da sua experiência, eu sonhava mais. E quando eu lia livros, então? Rota 66, Os Mídias em Angola e outros, foram  livros que me fizeram voar longe.

O tempo foi passando e o sonho foi perdendo força, graças aos constantes problemas envolvendo a profissão, que, nas décadas de 60, 70, 80 e 90, ainda era considerada o Quarto Poder. O jornalista era temido, paparicado e tinha nas mãos o futuro de uma celebridade ou político, por exemplo.

Mas parece que tanto glamour limou o profissional jornalista. Acho que com o tempo, a ética jornalística começou a se tornar dúbia. Até aonde um repórter ia/vai para conseguir um furo? O que ele era/é capaz de fazer?

Eu entrei orgulhosa neste mundo e acho que vou sair descontente. Estes anos fui aprendendo que o jornalista ainda é importante, mas perdeu seu espaço, graças a tantos escândalos.

E eu, como vou ficar? O que fazer, já que tem mais jornalista formado do que jornal para trabalhar? Ups! Colei

Passei pelo CEFOJOR, onde "estudei" jornalismo, e depois andei trabalhando por aí. Na verdade, nunca tive o sonho de ganhar um prémio por um furo... eu queria só ser jornalista. E dizem que sou, mas não me considero uma profissional como aquelas que usam o talento investigativo e o feeling comunicativo para benefício dos seus leitores.

No próximo dia 7 de Abril (dia do jornalista), desejo a todos, e a mim, um dia especial. Um dia para que reconheçamos que ainda somos importantes, principalmente na Afrika, onde a informação carece de verdade. Somos o elo entre o mais humilde e o mais forte, que vez ou outra burla as reais definições. Somos o significado da verdade e precisamos honrar isso.

Mesmo que nosso talento e sentimento não seja mais necessário, não devemos nos deixar abater. Escrevemos, e passamos tanto tempo nos esforçando e, agora, merecemos ganhar os lucros de tanto esforço. Responsabilidade atrai responsabilidade e sinceridade precisa ser característica irrefutável e inexorável.
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Feliz dia do Jornalista