domingo, 6 de janeiro de 2013

“ O calão da nossa banda”


Por: Mwana Afrika

Hodiernamente, verificamos um fenómeno de linguagem especial usado sobretudo por jovens para indicar outras palavras informais da língua, com o objectivo de fazer um segredo, um acto cómico ou criar um grupo com seu próprio dialecto.
A língua portuguesa em Luanda, sofre quase sempre, constantes alterações interessantes, com maior incidência no discurso oral.
Empregada na sua maioria por jovens,” o calão da nossa banda”, observa-se que seu uso cresce até mesmo entre os meios de comunicação de massa.


Apesar do português ser “nossa língua mãe”, acreditamos que há várias formas de se falar português e que muitos mwangolés, ainda estão “wazebelé”, ou melhor, temos dificuldades em nos expressar. Daí que inventam-se termos, que por nós, fica mais fácil.
Não existe mesmo em outra parte do globo. O nosso “calão da banda” faz toda diferença.Tudo a seu tempo. Vai e vem, vai e vem... Temos sempre, termos novos. Cada termo com seu “tempo de reinado”. Ora, usam-se os termos: “VO TI ENTRA” – vou te bater “VO NI AGI” – vou lutar com ele/a“VAMU NI AGUENTA” – vamos tirar/possuir o que é dele“TABATOTA” ou “STA SEBEM” – esta tudo bem“VAGUENTU” –  vai aguentar“TÁ BATE” – esta na moda“MO CIENTE” ou “MO SANGUE” – meu cúmplice“MO WI” ou “MO AVILU” – meu amigo ou companheiro


São múltiplos os termos criados, até chegar nos que “estão a bater” ou melhor, estão na moda, como o kabotxobotxo e o swagger.Muitos de nòs, consideramos este um falar errado, porque não corresponde à gramática portuguesa. Se repararmos bem, na gramática portuguesa, nos deparamos frequentemente com expressões usadas somente no Brasil, ou somente em Portugal. Então, porquê não introduzirmos também algumas palavras usadas somente em Angola?


"Cumué?" "Já foste lá? – ainda"; "Ele é mo mais velho"... Certamente esse tipo de expressões já não nos surpreendem, porque como angolanos, já nos habituamos a ouvir. Mas se pusermos um brasileiro ou um português a ouvir tais expressões, certamente se surpreenderá. Tendo em conta que o nosso português sofre uma forte cadência das nossas línguas nacionais, o Kimbundo e o Kingongo, em primeiro lugar.


O calão do "mwangolé" tem sofrido, ultimamente, uma forte expansão, que tem se verificado não somente no interior do país, mas também em outros países lusófonos. Em Moçambique, o "Kota", o "Bué", ouve-se por toda parte, entrando consequentemente no vocabulário local. O mesmo verificar-se em Portugal, onde tais palavras já foram inclusive, inclusas no novo dicionário da língua portuguesa.


Tais expressões nascem na maior parte dos casos como códigos, como linguagem que pode ser usada entre um grupo de amigos, de modos que os outros não possam perceber. O uso frequente faz com que muitos venham a tomar conhecimento dos tais códigos, fazendo também o uso das mesmas. Muitas vezes, tais códigos trazem inspiração das nossas línguas nacionais, fazendo assim um “mix” entre português e língua nacional.


Com o uso de tais expressões alguns angolanos sentem-se "mais angolanos", o que estimula o frequente crescimento do uso das mesmas. Na verdade, hoje em dia, políticos, artistas e varias entidades, são deparadas a usarem os vários calões, criando assim uma maior aproximação entre eles e a juventude em geral.


O país que de certa forma encontrava-se mais relutante em "aceitar" o calão angolano é certamente Brasil, sendo aquele país muito ligado a própria cultura e as próprias expressões. Mas com a "invasão" do kuduro neste país, a aceitação tornou-se inevitável. O kuduro, é sabido, carrega dentro de si um conteúdo extremamente "mwangolé", uma série de expressões que são usadas somente em Angola, e muitas vezes só nos subúrbios. 

Através da música, o calão tem penetrado no vocabulário brasileiro, ainda que em pequena proporção. As ondas musicais e não só, poderão certamente contribuir para a expansão da "linguagem mwangolé".


A música sempre se revelou como o maior meio de propagação do calão angolano, sobretudo em Angola: país muito ligado ao ritmo e à musica. A linguagem do "ghetto" tornou-se hoje em dia linguagem pública, podendo a mesma ser exprimida em simples palavras mas inclusive em frases inteiras. O "está a correr tudo bem", pode ser traduzido em "tudo tá sair bem", o "gostei daquela coisa" em "aquele mambo me cuiou", etc etc. Deste modo, não se fala somente em palavras angolanas, mas em linguagem angolana, o que implica que já podemos criar um nosso dicionário. 

Dicionário que necessitaria de ser frequentemente actualizado, porque as expressões vêm e vão, assim como algo pode entrar e sair da moda.
Tendo em conta o facto de que nenhuma língua exista isoladamente, isto é, independentemente dos factores que a rodeiam, a cultura, a politica, os hábitos e costumes, etc., o português angolano não constitui excepção. Todos estes factores influenciam na propagação da nova linguagem angolana.


O calão representa um factor muito importante para a identificação de uma sociedade, assim como acontece com muito outros países que falam a mesma língua. Um exemplo básico é o inglês. O inglês americano apresenta grandes laços de diferenciação ao inglês da Inglaterra, sobretudo no discurso oral. 

Nos Estados Unidos usa-se frequentemente o calão e a gíria, que provocam uma grande distinção na linguagem dos dois países. Pela audição, pode-se notar se o sujeito é americano ou inglês. O mesmo acontece com o calão angolano. O calão e a gíria podem caracterizar uma sociedade, tornando-se assim num meio de identificação de uma comunidade.


Será que com o “nosso calão da banda” já pode ser considerado de “fenómeno de imposição cultural”? Eis a questão.Com a globalização, um novo entendimento de aculturação vem se tornando um dos aspectos fundamentais na sociedade. Mas felizmente, quanto a “cultura do linguajar mwangolé”, parece que não nos vamos deixar aculturar, pelo contrário: parece que vamos aculturando os outros povos de expressão portuguesa. “Stamus mbora bem”. A verdade é que, se é correcto ou não... É “mbora nossa linguagem”. Muito nossa, com mais cultura, mas identidade...Mas nós e mais Angola!!!


In: Jornal Cultura / Maio de 2012


Kudilonga - Aprenda kikongo



Ups!
É sério. Sou mesmo afrikana de raíz. Amo minhas raízes e acho que nossas línguas afrikanas são uma maravilha né.
Hoje começa a primeira aula de Kikongo. Rsrsr, também sou uma aprendiz, mas o pouco que sei vou aqui ensinando. 
Meus contos, são contos da minha tradição oral, e sendo da tradição oral, muitas das vezes mantem os termos na minha língua de origem que é o Kikongo. Daí que surgiu a necessidade de cá, ensinar também esta língua.

. . . . . . . . 



KIKONGO


  • Na língua Kikongo no alfabeto temos:

a, b, d, e, f, i, k, l, m, n, ng, o, p, s, t, u, v, w, y, z



  • Não temos no kikongo:

c, h, j, q, r, x 



  • Substituimos:

j=z 

x=s
r=l


  • Soam: s soa sempre ç ou ss (ex.: disu) ; e o g nunca tem valor de j (ex.: nkonge). NB.: Nkonge e não nkongue



  • As palavras que começam com "m" ou "n", algumas têm apóstrofe e outras nem por isso. As que têm apóstrofe servem de acento da primeira sílaba. (Ex.: m^banza). As que não têm apóstrofe nasalam levemente (Ex.: mbanza).

  • A divisão de sílabas não segue as regras do português (ex.: lu-mbu, mu-ntu).

  • Todas a palavras em kikongo terminam com vogais.

  • O l  da primeira sílaba do verbo transforma-se em nd como substantivo (ex.:longa-ndonga)

  • Na adaptação de palavras estrangeiras deve tomar-se em conta que, o Kikongo não tem consoantes seguidas (cr, cl, pl, stc). Por conseguinte intercala-se uma vogal entre as consoantes (Cristo-Kilisitu; cruz-kuluzu; presidente-pelezidente; litro-litulu).